domingo, março 11, 2007

Mulher e Trabalho


Fonte -Imagemhttp://www2.uol.com.br/pagina20/6junho2003/site/25062003/index.htm


Amalia Sina *

Desde várias décadas atrás, a mulher vem tendo uma trajetória quase silenciosa rumo a mudança do seu modo de agir e pensar. O mundo está em verdadeira mudança e não é mais aceitável desconsiderar fatos que alterem sensivelmente o caminho da sociedade. Uma importante alteração tem ocorrido no campo de trabalho da mulher brasileira. A ascensão da mulher e a evolução dos seus papéis na sociedade merecem especial atenção.

Os últimos dados disponíveis, apontam que no período entre 1940-1990, a força de trabalho da mulher passou de 3 milhões para 23 milhões de pessoas, aumentando sua participação na população ativa do país de 19% para 35,5%. Em 1940, quase a metade (48%) da população ativa feminina era focada no setor primário da economia, basicamente agricultura. Em 1990 mais de dois terços (74%) da população economicamente ativa feminina era concentrada no setor terciário,ou seja em serviços, principalmente em alguns setores da economia, como atividades comunitárias, áreas voltadas à educação, serviços de saúde e principalmente serviços domésticos.

Estes dados resumem as principais características da força de trabalho feminina, que embora crescente, é proporcionalmente pequena e profissionalmente marginal. É pequena porque, apesar de a mulher ser maioria na população do país, sua participação no mercado de trabalho é de apenas 35,5%. É profissionalmente marginal devido ao fato de que a grande maioria das mulheres que participam do mercado de trabalho exercem apenas atividades de média e baixa qualificação profissional.

Além da pequena participação no mercado de trabalho e a marginalização profissional, existem outros problemas relacionados à população ativa feminina, que devem ser alvo de verificação e estudo por parte da sociedade visando à propagação da justiça na área do trabalho e social. Os rendimentos salariais da mulher são, em geral, inferiores aos dos homens. Os últimos dados que se tem, da década de 90,apontam que dos trabalhadores que ganhavam até meio salário mínimo, 62% eram mulheres, e dos trabalhadores que ganhavam de 5 a 10 salários mínimos, 73% eram homens. Os baixos salários são uma das razões que poderiam explicar a preferência de muitas empresas pela mão-de-obra feminina, não sendo necessariamente um crescimento qualitativo.

A dupla jornada de trabalho ou trabalho redobrado, no emprego e no lar, que sobrecarrega violentamente a mulher é também um item que merece ser analisado por conta dos danos que isto também acarreta no seio familiar. A família passa a contar rotineiramente com uma mulher sempre a beira da exaustão e sem condições de transmitir a qualidade de relacionamento fundamental para manter a família como o esteio da sociedade . Isto vem ocorrendo em grande parte das classes sociais e pode ter conseqüências graves para o futuro do país, já que estudiosos da educação afirmam que, quando se educa um homem, está se educando apenas um indivíduo, mas, quando se educa uma mulher, se educa a família inteira.

Além de receberem baixa remuneração e de exercerem a dupla jornada de trabalho, as mulheres são vítimas de preconceitos ,por exemplo, o da chamada "inferioridade" do sexo feminino em relação ao masculino, apesar de não ser manifestado abertamente. Adicionalmente, as mulheres sofrem abusos como o assédio sexual ou moral no trabalho, ambos causadores de danos irreparáveis à personalidade e a auto-estima da mulher brasileira. Estas são constatações reveladoras do tratamento desigual a que estão sujeitas. O caráter patriarcal e masculino da sociedade brasileira está na base da marginalização profissional da mulher, segundo fonte IBGE e Estatísticas Históricas do Brasil.

Apesar destes dados apontados pelo IBGE,a mulher tem percebido e se conscientizado do valor do seu papel na sociedade e tem buscado um equilíbrio no desempenho destes papéis. Este novo pensamento e ação da mulher, têm causado impacto no formato da família, das estruturas de apoio domésticas e principalmente da sociedade. Diante das transformações, a mulher enfrenta na atualidade um momento histórico que merece destaque e atenção. Toda mulher, de qualquer classe social está vivendo um dos períodos de maior pressão de sua vida, só equivalente às dificuldades que teve que enfrentar quando ainda era considerada um ser de segunda classe quando comparada aos homens. Infelizmente, isto ainda ocorre em países que teimam em não perceber o quanto estão equivocados.

Nunca se exigiu tanto da mulher como nos dias de hoje. Logo cedo, ainda pela manhã, já se tem que estar bem, se preparar para ser vista, admirada, julgada, às vezes preterida, cobiçada, amada entre outras tantas coisas. A própria mulher do seu tempo, não se aceita sem tentar obter o que é melhor para ela, e nesta lista de prioridades, sua família sempre ocupa lugar de destaque. Tem uma noção clara do que é bom e do que é duradouro. Recentes pesquisas demonstram que apesar de realizada com os seus vários papéis na sociedade, a nova mulher está insatisfeita ou até mesmo infeliz.

Está buscando um equilíbrio que parece ser ficção científica. O desafio advém do fato de na busca frenética por chegar lá, seja ”lá” onde for, ela tem que entregar à sociedade e a si mesma, muitas qualidades. Principalmente no campo profissional. Qualquer que seja a área de atuação, a nova mulher se cobra o tempo todo para estar alinhada a todas as tendências, não se descuidando de quase nada. Trata de sua beleza, busca atualização, volta aos estudos, lapida idiomas, investe em vestimenta, treinamentos, um sem fim de atividades utilitárias. Isto tem um preço, que ela paga sem pedir recibo. Assim caminhando, vai conquistando e deixando para trás os desafios. Tem clara a noção de que não há bônus sem ônus. Tem os pés no presente com um olho ávido num futuro mais feliz para todos.

* Amalia Sina, Administradora de Empresas, Professora da Fundação Dom Cabral. Autora do Livro “Mulher e Trabalho” – O desafio de conciliar diferentes papéis na sociedade, Editora Saraiva.

http://www.revistamissoes.org.br

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